Alta Roda nº 632 — Fernando Calmon
A história do automóvel fascina pela inserção na cultura dos povos, além da diversidade criativa e as paixões que desperta. Desde a primeira patente, em 29 de janeiro de 1896, quando nasceu a atual Mercedes-Benz, foram 125 anos de trajetórias brilhantes e muitas nem tanto. Mais de mil marcas com alguma expressão disputaram lugar ao sol nesse século e um quarto de vida. Hoje menos de uma centena sobrevive, sem contar fabricantes de nicho e a prolixidade existente na China, já em processo de consolidação.
A seleção natural e as exigências de mercado, tão volúvel como sensível às condições econômicas, barraram ideias e sonhos. Por consequência, apenas 13 conseguiram se tornar centenárias: Alfa Romeo, Audi, Buick, Cadillac, Fiat, Ford, Lancia, Mercedes-Benz, Opel, Peugeot, Renault, Rolls-Royce e Skoda. Nesse clube fechadíssimo, o próximo membro a incluir é a Chevrolet.
O suíço Louis Chevrolet tem ligação histórica com a também centenária 500 Milhas de Indianápolis. Ele e os irmãos Arthur (correu na primeira prova, em 30 de maio de 1911) e Gaston (venceu a edição de 1920) nutriam paixão pelas corridas. Louis se associou a William Crapo Durant e a dois financistas para cofundar a Chevrolet, em Detroit, no dia 3 de novembro de 1911. A sociedade durou pouco. Em 1915, Chevrolet se desentendeu com Durant sobre o projeto dos carros e vendeu sua parte na sociedade. Durant tornou a empresa lucrativa já no ano seguinte e comprou a General Motors, de onde tinha saído em 1910, fundindo-a com a Chevrolet em 1917.
Para competir com outras 270 marcas existentes na época nos EUA, Durant decidiu que o refinado Classic Six, de US$ 2.150, teria que dar um lugar a um modelo mais simples, de US$ 525, para combater o Ford modelo T. A Chevrolet só alcançou a liderança do mercado americano em 1931 e lá permaneceu até 1985 (à exceção de quatros anos). Como verdadeiro ícone americano, é citado em mais de 300 músicas.
Sobreviveu à crise econômica de 2008/09, quando o governo federal injetou dinheiro e se tornou dono da companhia até a reabertura recente do capital em bolsa. Em data incerta o governo venderá sua participação, agora minoritária. A GM reforçou a imagem da Chevrolet, rebatizando a sul-coreana Daewoo com essa marca no ano passado. Assim, 51% das 4,27 milhões unidades vendidas pela GM no mundo ostentavam a gravata borboleta dourada na grade.
No Brasil desde 1925, inicialmente apenas montando veículos, a marca detém uma estável terceira posição de mercado, mas lidera na América do Sul com um milhão de unidades comercializadas em 2010. O país é o segundo mercado mundial para a Chevrolet, depois dos EUA, porém a filial chinesa deve assumir esse posto em 2011.
No ano do centenário da 500 Milhas de Indianápolis, a marca anunciou sua volta, em 2011, à corrida de mais de 300.000 espectadores. Fornecerá motores V-6 turbo, a exemplo de Honda e Lotus, todos utilizando etanol de cana-de-açúcar. Este ano o carro-madrinha foi o Camaro conversível. A GM estuda importar essa versão 10% mais cara, a partir do próximo ano, para fazer par com o cupê, que vem superando as expectativas de venda. Challenger, da Dodge e o Mustang, da Ford entrarão nessa disputa.
RODA VIVA
Melhor mês de maio da série histórica, os 318.000 veículos vendidos tiveram a influência do maior número de dias úteis em relação a abril. No critério de vendas diárias, as 14.500 unidades ficaram 5% abaixo do mês anterior. No acumulado do ano, comparado a 2010, crescimento foi de 8,8%. Ainda dentro da previsão da Anfavea de acomodação nos próximos meses.
Renault prevê que seu SUV compacto Duster, no segundo semestre, pouco afetará as vendas do Sandero Stepway. Para tanto, reduziu o preço da versão aventureira do seu compacto anabolizado, no ano modelo 2012, mantendo diferença confortável. Mercado dos utilitários esporte no Brasil cresceu nada menos de 16 vezes, em dez anos.
Versões de duas portas dos compactos, que já reinaram no mercado, ensaiam uma retomada. Caso do Uno Sporting, com retoques de decoração na carroceria e novas rodas, além do motor de 1,4 litro/88 cv (etanol). Interior também recebeu cuidados específicos. Só não dá para entender porque os comandos internos dos retrovisores laterais dispensaram comando elétrico.
Retorno do Salão do Automóvel do México, dessa vez em Guadalajara e por iniciativa do brasileiro Sérgio Oliveira, promete novidades como o March sedã (hatch é esperado aqui até outubro). Mais de 22 marcas confirmaram participação. A última exposição foi há três anos na cidade do México. Este ano se realizará entre 2 e 10 de julho.
Motores de três cilindros vão “invadir” os modelos compactos. Ford confirmou, nos EUA, que a versão de 1 litro com turbocompressor e injeção direta estará pronta, em menos de dois anos. É alternativa aos motores de aspiração natural de quatro cilindros e 1,6 litro. E também no Brasil dentro da política de atualização para todas as filiais do grupo.
A coluna Alta Roda aborda temas de variado interesse na área automobilística: comportamento, mercado, avaliações de veículos, segredos, técnica, segurança, legislação, tecnologia e economia. A coluna semanal é reproduzida em 85 jornais, revistas e sites brasileiros. Está dimensionada com 5.000 caracteres e é editada nas 52 semanas do ano. Alta Roda começou a ser publicada em 1º de maio 1999. Firmou-se como referência no jornalismo especializado por sua independência e análises objetivas.
Sobre o autor: Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br) é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada no Carros e Segredos e em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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