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Coluna Alta Roda – Oportunidades perdidas

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Alta Roda nº 634 — Fernando Calmon — 21/6/11

Apesar dos percalços, o mercado argentino se integra cada vez mais ao brasileiro e vice-versa. Bom exemplo é o Salão do Automóvel de Buenos Aires. Teve início modesto em 1998 e apenas cinco edições entremeadas pelas crises econômicas no país vizinho que atingiram sua indústria automobilística. Desde 2005 passou a ser organizado nos anos ímpares e assim se intercalar com o Salão de São Paulo, nos anos pares.

A exposição bienal em 2011, de 17 a 26 deste mês, tem público previsto em torno de 500.000 pessoas, segundo os organizadores. Proporcionalmente ao tamanho dos mercados surpreende, pois com toda a tradição é difícil São Paulo atrair mais de 600.000 a 700.000 visitantes.

Essa edição do salão portenho apresenta grandes novidades para os dois mercados. Os fabricantes aproveitaram o bom momento para antecipar o que chega nos próximos meses. Entre as surpresas o Chevrolet Cobalt, novo sedã compacto desenvolvido na Coreia do Sul com participação brasileira. Embora apresentado como carro-conceito e superequipado, está pronto para o lançamento nesse segundo semestre, sucedendo o Corsa sedã. A nova picape S10 surgiu disfarçada como Colorado (nome nos EUA) na versão Rally. Retirados os pesados adereços, é o mesmo produto que será lançado aqui logo no início de 2012.

A Ford também antecipou como será a nova Ranger, mostrada antes no Salão da Austrália, em outubro do ano passado. Fabricada na Argentina e prevista para meados de 2012, pôde ser apreciada por inteiro em versão definitiva, inclusive o interior evoluído da cabine dupla. A Renault exibiu o utilitário esporte compacto paranaense Duster que chegará em quatro meses. A Sport Cross, versão aventureira da station argentina SpaceFox, está pronta e prevista para agosto.

O Fiat 500 mexicano estreou para o mercado argentino com o motor 1.4 Multiair, de 102 cv, fabricado nos EUA. E a Nissan surpreendeu ao exibir o Sunny, sucessor do Tiida sedã, que também virá do México, em 2012.

Otimismo quanto ao crescimento dos dois mercados ninguém tem dúvidas e marcou o Salão de Buenos Aires. No entanto, a capacidade da indústria instalada competir com veículos importados já não parece tão clara. Um executivo brasileiro, que pediu anonimato à coluna, fez as contas: em 2013, se nada for mudado para aumentar a competitividade, sairá mais barato importar um modelo compacto da China, pagando imposto de 35% e o frete, do que produzir aqui.

Há outros sinais claros sobre essas dificuldades, como a escalada dos custos de mão de obra evidenciados na longa greve de 37 dias enfrentada na fábrica paranaense da Volkswagen. A vizinha Renault pagou o que o sindicato pediu para evitar uma parada às vésperas de um lançamento. A japonesa Mazda volta ao mercado brasileiro no próximo ano, mas preferiu abrir uma fábrica no México. A BMW anunciou que planeja produzir na América Latina. O Brasil, ainda candidato, enfrenta a forte concorrência mexicana pelo investimento da marca alemã.

De oportunidade em oportunidade perdida, o país precisa decidir o que quer da vida em termos industriais. Consolidar-se como polo produtivo e exportador ou simplesmente passar a importar carros completos ou desmontados com baixo conteúdo local.

RODA VIVA

AUMENTA aos poucos a oferta de câmbio automático em modelos mais acessíveis. Renault terá essa opção no Sandero e também no Logan até agosto. É unidade convencional, com conversor de torque, fabricada na França pela STA, subsidiária da marca. Câmbio robotizado, mesmo de produção nacional, foi desconsiderado.

ÚLTIMA forma: Fiat 500 terá motor flex (1,4 Fire Evo) e também câmbio de cinco marchas produzidos no Brasil e exportados para o México, de onde virá sem imposto. Para compensar os 12 cv a menos em relação ao motor atual, utilizará marchas mais curtas que as da atual caixa de seis velocidades. Futuro Multiair flex virá dos EUA, mas com desenvolvimento brasileiro.

FREELANDER 2 agora dispõe de motor diesel com turbocompressor de geometria variável de 2,2 l/190 cv/43 kgf·m e autonomia de até 972 km, segundo a Land Rover. O preço, como todo diesel, é um pouco puxado: de R$ 130.000 a R$ 173.000. Motor de seis cilindros em linha a gasolina, 3,2 l e mais 43 cv custa R$ 7.000 a menos: ideal para quem roda menos.

INVESTIMENTO na nova fábrica da BorgWarner, em Itatiba (SP), totaliza R$ 70 milhões. Capacidade de produção de turbocompressores subirá de 300.000 para 500.000 unidades/ano. Para alcançar esse volume a empresa conta que motores turboflex, na faixa de 1 a 1,4 litro de cilindrada, serão ofertados no Brasil visando a menor consumo de combustível.

SEGUNDA animação da Disney.Pixar sobre automóveis, Carros 2 estreia dia 24 deste mês. Filme em 3D vale ainda mais a pena de ser assistido por quem tem conhecimentos automobilísticos para perceber sutilezas e bom humor dos diálogos. Prende a atenção dos menos iniciados pelo ritmo acelerado e enredo mais apurado do que no primeiro filme.

AA CALMONA coluna Alta Roda aborda temas de variado interesse na área automobilística: comportamento, mercado, avaliações de veículos, segredos, técnica, segurança, legislação, tecnologia e economia. A coluna semanal é reproduzida em 85 jornais, revistas e sites brasileiros. Está dimensionada com 5.000 caracteres e é editada nas 52 semanas do ano. Alta Roda começou a ser publicada em 1º de maio 1999. Firmou-se como referência no jornalismo especializado por sua independência e análises objetivas.

Sobre o autor: Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br) é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada no Carros e Segredos e em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

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